
“ESTUDAR EM TEMPO DE PANDEMIA- O EXPLICADOR, MAIS DO QUE UM PROFESSOR”
Nos tempos que decorrem é cada vez mais complicado ser-se criança ou jovem em idade escolar. Os nossos alunos são privados, mais do que estudar, de estar com os seus. Os seus amigos, os seu colegas, os seus namorados e namoricos, os seus jogos e contactos no intervalo. Vêm-se obrigados a crescer longe dos que lhe dizem tanto e lhes são tanto.
Sou professora e explicadora e, como eu, muitos colegas de profissão foram os únicos que entraram na casa de muitos alunos para lhe levar informação e conhecimento escolar durante o tempo de pandemia, uma vez que muitos professores optaram por aulas assíncronas e, as síncronas eram realizadas de câmara e microfone desligados.
Mais do que professores e explicadores que transmitem a informação das matérias, da gramática, do texto, do cálculo ou das fórmulas químicas, somos quem leva um pouco da escola para casa e, nas explicações em grupo, levamos um pouco dos colegas e amigos, das suas personalidades e preguiças que não desaparecem atrás de um ecrã. Sabemos que tentam sempre contornar as situações e tentam copiar ou não comparecer à aula, mas aí, cabe-nos a nós, professores, captar os alunos para o nosso lado, assim como os pais, procurara que os alunos compareçam nas aulas, tal como os deixam na explicação.
Apesar de grande parte dos meus alunos se ter sentido afastado da escola enquanto explicadora, senti-me muito mais próxima dos meus alunos. Abri a porta da minha casa e eles abriram a porta da casa deles para me receber. Os meus alunos passaram a confiar mais em mim! alguns dias fui psicóloga, amiga confidente dos alunos e, em alguns casso também dos pais que estavam confinados nas suas casas, em pequenos caixotes de apartamentos e, ver o professor pela janela de um computador era a melhor coisa que lhes acontecia ao longo do dia.
O confinamento e o fechar o centro de estudos, em espaço físico, obrigou-nos a adaptar e a reajustar todas as nossas aulas, no início não foi fácil para ninguém, mas hoje, orgulho-me de dizer que todos os meus alunos se mantiveram comigo (connosco) e, abrimos as nossas portas a todo o país e além-fronteiras, o que nos permitiu chegar a um público também maior, graças à Fixando.
Ser professor é tudo isto, é ensinar, é estar perto, mesmo estando longe, é ser ao mesmo tempo um ombro amigo para uma situação difícil ou o conselheiro.
Não nos podemos esquecer que o tempo não volta para trás, que as matérias já foram sumariadas e, mais do que um grau académico, é necessário formar competência e os saberes ser, estar e fazer. Orgulho-me bastante de ser professora e levar um pouco de mim a cada um dos meus alunos e orgulho-me de toda a equipa que comigo trabalha.
É importante que continuemos a lutar e a viver com a “liberdade” que nos é permitida encarando cada dia, como um novo dia e, transformar as dificuldades, em oportunidades.
Carla Carvalho